A noite anterior fora de preocupações e mais algumas
cotidianas brigas com Stenio, aborrecimentos com Drika e até com Morena, mas
Helô levantara com a cabeça erguida e um sorriso no rosto. Ela estava muito
feliz com o resultado de sua prova para a PF, seu sonho finalmente se
realizara, delegada da polícia federal! Mal toma café e já vai saindo para as
semanas finais de trabalho. Passa por Creusa, dando-lhe bom dia e um beijo,
pega as chaves do carro e da casa no vaso e sai. Creusa tem um mau
pressentimento, leva suas mãos ao peito e estranha o que sentira, mesmo assim
continua seu trabalho. Ultimamente Heloisa estava desagradando alguns vilões,
sem nem saber no que estava se metendo, seus últimos casos na delegacia civil
não só pareciam, como eram muito sérios e grandiosos, ela nem imaginara que
dentre alguns passos a frente estaria totalmente envolvida com uma perigosa
quadrilha de tráfico humano.
Enquanto Helô descia o elevador de seu prédio, Lívia
acertava todos os detalhes de sua morte. Um atentado! Ideia de seu sócio,
Russo, que estava à frente do plano. Por telefone eles recebem o ok do comparsa
que fazia o trabalho sujo no carro da delegada. Acreditavam, então, que agora
seria questão de segundos para que não sobrasse nem pó daquela enxerida que os
atrapalhava. Acreditavam...
A delegada caminha até seu carro, destrava-o, entra, põe o
cinto e liga o carro. Algo estranho acontece. Uma fumaça quente começa a
invadir o automóvel, Helô estranha e fica paralisada, mantendo a calma e
revendo sua situação. E agora, como agir? Ela tenta abrir as portas, mas estão
travadas, perde muito tempo tentando tirar o sinto, que por alguns instantes
também achou que poderia estar preso, travado. Estava sufocando, como podia
permanecer dentro daquele cubículo quente, sem oxigênio? Agora era difícil
respirar, ela tossia muito e sentia mole. A fumaça inalada por ela fazia com
que o momento ficasse ainda pior do que já estava. Seus pedidos de socorro
pareciam não ter resultados. Batia nos vidros, tentava novamente as portas,
porém nada adiantava. Até chega a pegar o extintor de incêndio e quebrar um dos
vidros, quando as labaredas sobem e as deixam totalmente desnorteada. Estava
presa e prestes à virar churrasco. Inclusive esse foi o termo que finalizou a
operação da quadrilha naquela manhã. Assim que o carro começa a pegar fogo, o
comparsa, que se encontrava no local, liga para Russo e lhe deixa com um
sorriso maligno no rosto – Churrasco de delegada. Está feito! – Os vilões
comemoram e relaxam. Menos uma no caminho deles. Só que não...
Apesar do desespero, de toda aquela fumaça dificultando
visão e respiração, da quentura, das queimaduras que já marcavam sua pele, Helô
não desiste de tentar sair Dalí. Do lado de fora os vizinhos tentam ajudar da
maneira que podem. Alguns com baldes d’água, extintores pequenos e,
principalmente, pedindo ajuda para os bombeiros. Finalmente a delegada consegue
abrir o teto solar, com muita dificuldade ela se põe de pé, por cima dos
bancos, escorregando e tentando se manter firme. Apesar de estar sem forças,
ela consegue sair, mas acaba caindo. Os vizinhos correm para ajudá-la, afastando-a
do veículo. A ambulância chega e os primeiros socorros acontecem. Creusa, que
descera logo após o aviso do porteiro, não parava de gritar, já havia ligado
para Stenio, estava muito preocupada com a patroa, e apesar de mais aliviada,
após ver Helô saindo daquela situação e seguindo para o hospital viva, não
parava de rezar e chorar.
No fim da manhã elas chegam em casa. Lucimar, que fazia a
faxina sem nem saber do acontecido, fica assustada com o estado da patroa.Helô
estava abatida, com algumas queimaduras e sendo amparada por Creusa. Ele corre
para ajudá-la a se sentar no sofá, e logo pergunta o que houvera.
H: Lucimar, eu não sei. – Olha ao redor. – Gente, parece que
eu... eu não to aqui. – Se senta. – Parece que eu ainda não voltei para meu
corpo, não saí daquele forno horrível. – Lucimar continua com as perguntas,
indignada. - Eu liguei meu carro e vi que havia algo de errado. De repente a
labareda subiu... – Seus olhos estão cheios de lágrimas – As portas não
abriam... – Respira fundo, querendo crer que aquilo tudo não passara de um
pesadelo – Eu achei, por um momento, que não iria conseguir escapar... – Fala
em estado de choque
C: Ô D. Helô... Eu senti uma coisa ruim quando a senhora
saiu, mas achei que era cisma minha. Assim que o porteiro ligou, eu desci
correndo, desesperada.
L: Mas que coisa louca. Meu Deus, D. Helô, mas seu carro não
é novo?
H: É sim, é sim. – Tenta se recompor. – Eu nasci de novo...
Eu nasci...
Helô é interrompida por Stenio, que entra no apartamento correndo,
desesperado, aos prantos. Ele pensara que não mais a veria e seu coração estava
dilacerado. Se olham por alguns instantes, nunca precisaram de muitas palavras
para certos momentos, pois apenas se mirando podia sentir tudo que se passava
dentro de seus corações. É o tempo de mais uma lágrima de desespero e alívio
cair, e antes mesmo dela chegar ao chão eles correm e se abraçam, um abraço
longo, intenso, acolhedor. Lucimar e Creusa saem da sala, deixando-os à sós.
Os corações dos dois batiam forte e aceleradamente, seus
olhos brilhavam por causa das lágrimas e da alegria que os inundavam. Stenio a
olha firme, segura seu rosto, estavam com os corpos colados (mesmo depois de
tanto tempo separados, não havia real limite, principalmente naquele instante,
de espaço entre eles), respiravam em sincronia e cada vez mais sentiam a dor e
preocupação do outro. Naquele instante, ignoravam o fato de estarem à 10 anos
separados, estando inevitavelmente conectados novamente.
S: Não acredito que você está aqui... – Ele tremia. – Eu
tive tanto medo... Quando a Creusa me ligou... – Sentia uma dor enorme no
peito, somente de imaginar que o pior poderia ter acontecido. – Eu achei que
não te encontraria mais aqui... – Ela, emocionada, fica comovida com a
preocupação e o carinho que o ex mostrava. – Tive medo... Tive muito medo de
chegar aqui, passar por aquela porta e não te encontrar mais! – A segurava
firma, parecia que não podia mais soltá-la, não podia mais passar pela
experiência de perdê-la, muito menos perdê-la para sempre.
H: Stenio... – Separam-se por um curto momento, olhando-se.
– Foi um milagre... Só pode ter sido um milagre.
S: Que bom que você está aqui. – Respira aliviado, entre
lágrimas. – Helô. Você é muito importante para mim! – Fala pausadamente,
resultando um sorriso e mais lágrimas do rosto dela. – Eu nunca duvidei disso,
nunca! Mas hoje eu posso ter a total clareza.
Eles se unem novamente, apoiando suas testas, ficando tão
próximo que podiam sentir o pulso um do outro. Mais uma vez respiram em
sincronia, agora mais calmos, pode-se até notar alguns sorrisos. O advogado lhe
beija a testa, é quando o clima de desespero muda inevitavelmente. Eles voltam
a se olhar, agora mais intensamente, pareciam ver a alma por trás das lágrimas.
Mas não tenho muito o que falar desta troca de olhares, pois não durou muito
tempo. Helô sente uma vontade enorme de estar protegida novamente, uma saudade
do abrigo, da segurança, dos braços do ex. Morde os lábios e ele, entendendo
que ela sentia o mesmo querer que ele, a beija.
Ali desaparecem os problemas, as diferenças, a separação, as brigas e
tudo que havia entorno. O beijo é urgente, quente, desesperado, cheio de uma
paixão que estava guardada a tanto tempo, e com desejos querendo ser cumpridos
de imediato. Creusa, que estava espiando da porta da cozinha, chama Lucimar
para ver a cena. Elas comemoram a linda visão em silêncio. Enquanto isso os
beijos alternam entre boca, testa, pescoço. Abraços e cheiros. Mordidas e
arrepios. Matavam a saudade de uma década naquele momento, e mesmo cansados não
conseguiam parar.
Stenio a puxa para si com uma de suas mãos na cintura e a
outra enroscada nos longos cabelos de Helô. Ela o acaricia os cabelos e, entre
lágrimas se sente arrepiar por completo. Que saudade de seus beijos, abraços,
toques...
Minutos depois se distanciam bruscamente, bastante
ofegantes, sem saber o que dizer. Seriam mesmo necessárias palavras? E como
explicar o que acabara de acontecer? O clima muda novamente, mas a vontade e o
desejo continuavam os mesmos. Agora se olham esperando uma reação, um próximo
passo, quem sabe um próximo beijo...
S: Helô... – Quase lhe falta a voz.
H: Stenio... – O mesmo acontece com ela.
S: Eu... – Caminha em sua direção novamente. – Eu... – Pega
sua mão e alisa. Ela permite cada movimento, apenas acompanhando com o olhar. –
Você... – Ele tinha medo de dizer algo que estragasse o momento. É claro que de
uns tempos para cá ele estava investindo novamente em Helô, mas não esperava
por aquele beijo, não esperava aquela cena, aquela emoção. Ele sorri para ela,
respirando fundo. – Eu queria... – Mas ela não o deixa terminar.
Com medo, Helô corre para o quarto e se tranca. Stenio não a
segue, precisava decifrar os impulsos que seu coração, após tanto tempo,
voltada a dar. Já Helô, em sua cama, não conseguia parar de sorrir. Sorrisos
simples, que se transformavam em gargalhadas e até em lágrimas de extrema
felicidade. Passava por sua cabeça tudo que Stenio havia lhe dito minutos
antes, das investidas que ele ultimamente estava voltando a lhe dar, e do tempo
de casado que tiveram. Ela rola na cama. Às vezes de olhos fechados, sonhando.
Às vezes de braços abertos, sentindo seu corpos transbordar de paixão, paixão
essa que ela pensara que havia acabado, desaparecido por completo depois de
tanto sofrimento. Entretanto ali, após aquele momento na sala, envolvida por
aqueles beijos, pela sensação gostosa de colar-se com ele novamente, tudo
parecia tão pequeno,insignificante, passado. Olha para o espelho e quase não se
reconhece.
H: Acorda, Heloisa! O que está acontecendo com você? – Dá
algumas tapinhas de leve no rosto. – Você não pode cometer o mesmo erro. Não...
Stenio não! – Fala firme, mas logo amolece ao falar seu nome – Stenio...
Stenio... – Volta a si e segue para o banho.
Daí começava, ou melhor, Recomeçava uma das mais lindas,
engraçadas e viciantes histórias de amor. Porque não é tão fácil assim esquecer
alguém que está tão facilmente conectado a você. Porque não era apenas uma
filha que os uniam. Porque 10 anos não foram suficientes para desmanchar o que
sentiam. Porque depois daquele beijo estava concretizado, marcado, em seus
lábios, corpos, corações, ações, pensamentos e horas, que necessitavam e
necessitariam ainda mais um do outro. Porque não seria a primeira, e nem a
ultima vez que a saudade falara mais alto...
Rayssa Vasconcelos.
*Coloquei #03 porque na page do Facebook foi postada uma fic enviada por uma Steloisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário